sexta-feira, 15 de março de 2024

FINITO NO INFINITO

 


consciente do tempo já passado
lembro a lembrança invertida
do quanto na contemplação a vida passa
embora vã na vastidão perdida
o sol desperta manhãs de liberdade
na momentânea delícia do dia que começa
minuto que derradeiro é ameaça
do passar fatal de um dia inteiro
há no passado o futuro que virá
e já passou
resta o lugar em que estou
menino a homem pensante já maduro
sinto inútil o sentido do finito
finjo o pensamento no infinito
e deixo de pensar e já esqueço
o que passou
e dele
já não padeço
Rio de Janeiro, 15 de março de 2024.

quarta-feira, 6 de março de 2024

PENSAMENTO-PASSAMENTO

 


quem sou eu que não sei quem sou

 no retrovisor estreito

de um carro em marcha

tão rápida que não deixa marcas

mas o sopro pálido do vento

que não me dá tempo


ah quem me dera ser alguém sensível

e olhar pra traz pensando no futuro

e no real só encontrar um furo

por onde corre a água felizmente limpa

de atitudes em que fui feliz


é um olhar bom sobre meu passado

mas que se esgota ao ultrapassar tal furo

e pouco deixa exceto o pensamento duro

de ver e me iludir

com o sol brilhante da imaginação


nada é essencial exceto ter vivido

natural e honestamente o tempo

porque assim o sinto 

fim que se aproxima e não me espanto

nem mereço pranto

porque assim é e a mim não minto


Rio 06 de fevereiro de 2024.




terça-feira, 5 de março de 2024

VIVER

 


se eu vivesse mais tempo 

e me perguntasse

o sentido de viver 

seria talvez mais fácil

morrer e não sentir

um momento sequer do difícil de viver


sentir e não saber é suficiente

para amar e sufocar

o que sinto e minto


quero-te mas não posso

no meu verso

dizer o sentido 

desse amor perverso


Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024



sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

A PALAVRA E O POEMA

 


Penso na palavra que esconde o poema
Penso no poema que a palavra esconde
Dificil encontrá-los
o poema e a palavra
Mas ouso insistir
Sem mentir
Busco amor no coração
E amo contrapropor a canção
À palavra ao poema
Ao amor e à pena
De insistir
E mentir
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2024

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

EM PENSAMENTO, DRUMMOND.

 


penso na vida e nas multiplas formas de sentir...
o amor é dela a procura e não devemos mentir
coisa louca coisa linda há outra coisa a fazer?
não a encontro e me respeito
a ti e a teu corpo respeito
mas amar o amor é a vida morder
não estranhes o poeta nem condenes seu dele desejo
que escreva que se declare
e se deixe viver
sem pejo.

Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2023

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

DESMEMÓRIA

 


a escuridão do círculo fechado

de quem nada se lembra

mas talvez sinta na emoção

um amor que é tristeza

na alma toda

do vazio da cabeça ao coração


temo o vazio dos olhos que vêem

e não refletem um passado

angústia de vida

névoa sem lágrimas

num dia chuvoso sem chuva


ouço o lamento dos que me amam

ou não me amam e lamentam

a náusea da ausência de sentimento

 ao arrepio da lei da gravidade

que impede triste o sentir

e esvaziam o vital de pensar


que a idade nos traga o sono

contudo não nos obrigue sem vontade expressa

a viver na penumbra do afeto

eclipse do sentimento no esquecimento

e da memória em dia de pleno sol


Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2024

 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

DEMÊNCIA

 


nada sei do que esqueci
mesmo antes de pensar em saber
e perder tudo no tempo
temi
outra vez acontece uma extrema incerteza
mágoa de perder a beleza
do saber
da vida na plenitude
próximo de não ser
não sei
nada sei
sobretudo pensei
no acaso de sobreviver
à própria compreensão
virada ao avesso
círculo que se fecha
noite absoluta
perco mesmo a angústia
nessa perda resoluta
do que fui e do que ainda penso que sou
para não ser mais
sem mesmo fisicamente morrer
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2024